Textos e fotos: Comunicação Intersul 2023
No segundo dia do Encontro Inter-regional Sul (Intersul
2023), ocorrido no 24 de agosto, de 2023, representantes das Cáritas Arqui/diocesanas
e regionais do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul retomaram as
reflexões sobre os clamores da realidade das regiões e as ações para vencer os desafios.
O encontro foi realizado na Casa de Oração São João da Cruz, em Porto Alegre
(RS) até o dia 25 de agosto. Ao final dos três dias, foram definidas estratégias
comuns e os preparativos para a 28ª Assembleia Nacional da Cáritas, a ser
realizada em novembro de 2023, em Minas Gerais.
Em rodas de conversa, debates e reflexões, a
sustentabilidade e atenção às junventudes voltaram à pauta como prioridades nas
ações Cáritas.
O que trouxeram para
o segundo dia de encontro?
A mística de músicas, preces e bênçãos foi seguida por uma
retomada de sentimentos e reflexões resultantes do dia anterior. “Podemos nos
aprofundar nos temas teológicos, é um grande caminho fazer esse diálogo para
dentro da igreja”, observou Gelson Nezi, da Regional de Santa Catarina. Neuza
Mafra, da mesma regional, trouxe a preocupação de reafirmar a luta “da qual a
gente nunca fugiu, mas que se precisa ressignificar”.
Carlos Humberto Campos, diretor da Cáritas Brasileira,
trouxe as armas da fé, da justiça, da verdade, da palavra de Deus. O Padre
Valmor Della Gustina, de Santa Catarina, falou sobre as parcerias possíveis e a
participação em conferências, como a de segurança alimentar e de saúde. “Quando
o povo se reúne, surge uma grande esperança, e a Cáritas não está só. Sempre há
muitas iniciativas”, ressaltou. Felipe Candin, também de Santa Catarina, trouxe
a questão ambiental, e o alerta de que estamos chegando ao ponto de não retorno
– das florestas, da vida! “Enquanto guardiões da criação, que a gente possa
avançar no sentido da Casa Comum, uma mudança concreta para garantir a
sobrevivência da Pachamama”, convocou.
“Ouve o grito que sai
do chão, dos oprimidos em oração...”
Cada regional apresentou em seguida os resultados dos
Monitoramentos de Ações e Projetos em seus territórios após uma escuta atenta
das entidades-membro, e da socialização em reuniões virtuais.
A preservação do meio ambiente, a gestão de risco e
emergência, o atendimento a migrantes e refugiados apareceram como destaques
dentro do processo de gestão e atuação. Também foi salientada a importância de
ampliar a formação dentro da Cáritas para agentes, paróquias, voluntariado.
É desafio ainda de todas as regiões aumentar a incidência
política, principalmente junto a conselhos de direitos.
No tema da migração e refúgio, foi constatado que houve avanços
na parceria com empresas, e na inserção de migrantes no mercado de trabalho, em
políticas com entidades locais, e atendimentos gerais, mas também é preciso
melhorar o atendimento especializado, por equipes técnicas. “Vemos a
fragilidade da rede de proteção e de aparelhos públicos. E de sistematização de
dados. Migrantes que são atendidos em outras regiões, quando chegam aqui não têm
um histórico do seu processo de migração”, relatou Gelson Nezzi. Há dificuldade
de fazer articulações com embaixadas, como a do Haiti, para passaportes e
documentos vencidos.
Na área de gestão, a sustentabilidade foi um ponto unânime.
Os Bazares Solidários são uma das grandes estratégias regionais, tanto para
mobilização do recurso, como institucional. O desafio é ampliar as doações. E
desenvolver outras formas de captação.
O Paraná lembrou como a Cáritas poderia avançar na área da
economia popular e solidária com ações pontuais. “Londrina faz a gestão do
centro público de economia solidária, com feiras mensais, e é uma política
pública. Queremos constituir uma escola de educadores populares em economia
solidária no Paraná. Já apresentamos o projeto para o Ministério do Trabalho de
dois anos de escola”, disse Márcia Ponce.
Uma das áreas consideradas mais fortes de atuação da Cáritas
foi a da Segurança Alimentar e Nutricional. Atendidas as urgências da fome, no
Paraná foi criado, em conjunto com CNBB, a ação Pão Nosso, com entrega de
cartões de alimentação e de cestas básicas, dando luz às ações da igreja. Nesse
sentido, foi criado o Mapa da Fome do Paraná. E todas as dioceses receberam um
marca-página com um Código QR para doação direta, de forma a incentivar o
Projeto Pão Nosso.
O Rio Grande do Sul apresentou em vídeo um resumo em fotos e
música com as ações em cada arqui/diocese, salientando os projetos de
saneamento básico e incidência política na área de segurança alimentar e
nutricional junto aos povos tradicionais (indígenas e quilombolas), inserido no
contexto de outros atendimentos, como apoio a migrantes.
O desafio na região é como atuar para a permanência das
famílias em suas terras, buscando alternativas às lavouras de fumo e mineração,
e como estimular o plantio de sementes crioulas, conscientizando para o perigo
do veneno. É preciso dar visibilidade às
comunidades, apoio a suas lutas, cultura e produção. Ali também ficou evidente
a necessidade de retomar e ampliar os projetos de economia popular solidária.
Depois vieram as rodas de conversas sobre a nuvem de
palavras, em que participantes identificaram clamores, quais são atendidos,
quais são os desafios, as potencialidades e ações comuns – temas tratados no
dia anterior.
Em seguida, Carlos Humberto Campos, diretor executivo
nacional, refletiu sobre as duas dimensões da Cáritas Brasileira. A interna
engloba a gestão e o fortalecimento institucional, em diálogo com o que foi
trazido por representantes das regionais do Sul. Com transparência, e avanços,
ressaltou. A Política de Salvaguarda, por exemplo, foi uma conquista, já que o
documento leva à integração com a Cáritas Internacional, e era uma demanda
desde 2015. “Este documento nos dá identidade e nos fortalece!”, reconheceu.
A sustentabilidade faz parte do fortalecimento institucional,
de acordo com Campos: “Não significa só ter dinheiro, mas saber como aplicar”. A
formação, idem, para entender o que significa “ser” um agente Cáritas. E a
comunicação, como estratégica a ser ampliada, afirmou o diretor-executivo.
Na dimensão das ações da Cáritas para fora da entidade,
Campos mencionou os temas da segurança alimentar e nutricional e da Migração. “Em
relação ao atendimento a migrantes, avançamos
pela demanda, mas não nos preparamos para fazer a incidência”, falou. Segundo
Campos, a Cáritas está construindo protocolos para a assistência a vários tipos
de pessoas em situação de exclusão social, incluindo migrantes. Outro aspecto
para fora da Cáritas é a questão da juventude. “Como construir estratégias para
que a juventude se insira nos processos de fortalecimento, participando das
entidades-membros, das paróquias?”, questionou, ecoando uma demanda que se
repetiu ao longo dos dias.
E, por fim, Campos chamou a atenção para o coração da
entidade, que é a identidade eclesial, a mística e a espiritualidade que
alimenta a todas e todos. Essa identidade pulsou firme e forte no Intersul
2023.
Nilza Mar Fernandes de Macedo comentou sobre a importância,
neste contexto, da retomada do diálogo da Cáritas com a CNBB.
Escuta avaliativa da
gestão da Cáritas Brasileira
Márcia Ponce apresentou uma avaliação da gestão da Cáritas, resultado
de reflexões coletivas, e fez recomendações. Entre as sugestões, está a implementação
de um sistema de registros, para dar rosto às ações e às populações atendidas, dentro
do que prevê a lei de proteção de dados. Também foi recomendado ampliar a
representação nos espaços de gestão efetivos e em espaços de articulações.
Felipe Candin conduziu, no final do dia 24, um painel sobre
os critérios e cargos a serem indicados para participar do pleito da 28ª
Assembleia Nacional da Cáritas Brasileira. Os nomes indicados e suas
respectivas funções foram relatados por representantes dos secretariados
regionais e a plenária se reuniu para refletir sobre cada nome, de forma
democrática e muito participativa.
O Intersul 2023 indicou para as eleições de diretoria e
secretário/a executivo/a nacional: Irmã Cleusa Alves da Silva (para
vice-presidente); Nilza Mar Macedo, Neuza Mafra, Rosa Diniz e Márcia Almeida
(para secretário/a); Padre Roque
Favarin e Luiz Rettig (para tesoureiro); Carlos Humberto Campos, Gelson Nezi,
Valquíria Lima, Márcia Ponce e Cátia Cardoso (para diretor/a executivo/a). Para o Conselho Fiscal, foram indicados/as:
Fernando Anísio, Luz Rettig e Andressa Gongora.
Você tem fome e sede
de quê?
A pergunta feita por
Mara Elaine e Neuza Mafra, na mística do terceiro dia do encontro, relembrou os
clamores que orientam a todas e todos: justiça, terra, igualdade, saúde,
educação, segurança alimentar, entre outros. Foi um momento de comunhão de sentimentos.
Ao iniciar o diálogo do dia 25 sobre os preparativos para a
Assembleia, Campos lembrou Dom Helder Câmara, que dizia que “Não se pode deixar
cair o profetismo da igreja”. O diretor executivo da Cáritas enumerou então os
documentos orientadores da Assembleia. “Trago elementos da Sinodalidade, de
caminhar juntos, tema que adquire especial importância principalmente depois do
Concílio do Vaticano II e com o Papa Francisco”, observou. Participantes
refletiram sobre a retomada da igreja em saída.
“Somos uma sementeira da igreja. E quando eu olho as falas
das nossas entidades-membro, eu vejo que temos uma igreja em saída, em todos os
campos. O que mais me incomoda e causa dor é ver a distorção da missão de Jesus
Cristo. A gente precisa se organizar para que os protagonistas dos processos,
de fato, das comunidades, possam fazer por si mesmos. Temos que avançar nessa
perspectiva”, disse. Não se trata de levar Jesus Cristo, mas de encontrar o
Jesus que já está nas comunidades, enfatizou.
Jacira Teresinha Dias Ruiz acrescentou a possibilidade de se
discutir na Assembleia os direitos da terra e da natureza.
Em uma dinâmica de grupos, todos e todas contribuíram para a
construção da Carta do Futuro do Intersul. Lucas D´Ávila lançou as
perguntas-geradoras que resultaram na Carta: quais os principais e de quem são
os clamores na luta por direitos e justiça socioambiental?; qual é o papel da
Cáritas neste contexto?; o que nós compreendemos por sinodalidade e como temos
a vivido na Cáritas?; quais são os aprendizados a partir do processo sinodal
que devemos incorporar na prática cotidiana?; e quais os compromissos podemos
assumir, como Cáritas, para esta vida sinodal na carta para o futuro?
“Esta é uma carta viva, em construção”, disse Lucas. A
carta, a ser enviada para a Assembleia Nacional em novembro, vai se integrar a
outras cartas enviadas pelos demais encontros inter-regionais.
Estas foram as ideias lançadas no esboço da Carta, que está
aberta a novas sugestões:
“No decorrer do ano de 2023, o encontro do Intersul trouxe
muito forte os clamores na missão da Cáritas. Já houve muitas lutas, muitas
vitórias e também algumas derrotas. O modelo capitalista tem nos assolado,
trazendo queimadas, destruição do chão e da vida. A incidência política sem ter
a profecia do Jesus histórico deixa a desejar, afetando famílias inteiras,
trazendo como principais clamores a fome. A juventude tem fome de inclusão,
fome de partilha e diálogo. As mudanças climáticas, as guerras, fazem com que a
população migre buscando apenas sobreviver e chega com diversas fomes, dentre
elas de alimentos, de respeito, sobretudo fome maior de viver com dignidade.
Esperamos ter superado e atendido estes clamores. Desejamos
seguir na missão, buscando o protagonismo dos mais vulneráveis, a sua promoção
e emancipação. Que nós sejamos promotores de conhecimento e portadores da Boa
Nova do Reino de Deus.
A sinodalidade nos desafia a um caminhar conjunto, de igreja
em saída, tendo como foco o Evangelho libertador de Jesus Cristo histórico.
Materializando a sinodalidade nas estruturas, nas relações, nos projetos e
ações da Cáritas Brasileira, e concretizando a sociedade do Bem Viver junto com
as comunidades empobrecidas.
Nós, do Inter-regional Sul, entendemos que o desafio sinodal
nos interpela a uma igreja em saída. De onde sairemos? Para onde sairemos? Com
quem caminharemos? Como faremos isto? Sairemos das tendas, desceremos os montes
e iremos ao encontro de Jesus Cristo, que se revela no povo; povo este que é
sujeito de sua ação com o qual devemos caminhar juntos à luz do Espírito Santo,
com os ouvidos e coração atentos e sensíveis aos clamores que surgem de nosso
chão, no caminho que é o próprio Jesus, que também é verdade e vida!
Com testemunho de Cristão Profeta, comprometer-se à luz do
Evangelho em ser agente transformador, tendo clareza da missão de lutar por uma
sociedade mais fraterna e igualitária, estando presente na vida da comunidade
com respeito à diversidade, para juntos buscarmos o Reino de Deus, aqui e agora.”.