Testemunhar e anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, defendendo e promovendo toda forma de vida e participando da construção solidária da sociedade do Bem Viver, sinal do Reino de Deus, junto com as pessoas em situação de vulnerabilidade e exclusão social" - Missão da Cáritas Brasileira
A caminhada de 67 anos da Cáritas Brasileira, com passos firmes na missão institucional, direcionou para o futuro que começou a ser trilhado na 28ª Assembleia Nacional, que aconteceu entre os dias 27 e 30 de novembro, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Para Dom Mário Antônio, arcebispo de Cuiabá e presidente da Cáritas Brasileira, “celebrar a 28º Assembleia é assumir o compromisso de continuar testemunhando o evangelho e sendo sinal do Reino de Deus, seguindo Jesus Cristo e servindo aos nossos semelhantes, mormente os mais pobres”. O arcebispo ainda completou: “A Cáritas Brasileira quer ser na Igreja do Brasil o braço da caridade de nossas comunidades”.
Agentes Cáritas, parceiros do Brasil e do mundo, assim como representantes do poder público estiveram presentes no momento histórico, que trouxe reflexões sobre os últimos quatro anos da rede e o próximo período da instituição, que é um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) .
“Quantas vidas resgatadas, quantas vidas e sorrisos, quantas flores que perfumam esse país na prática da solidariedade. Trouxemos o espírito e o resgate da solidariedade, sobretudo, pelos nossos irmãos caídos e deixados pelos caminhos, e é com esse sentimento que nós resistimos e estamos aqui, é com esse sentimento que renascemos as nossas esperanças e assim continuaremos a nossa missão”, disse Carlos Humberto Campos no painel de abertura da Assembleia, relembrando a Ação Solidária Emergencial da Igreja no Brasil “Tempo de Cuidar”, que representa um marco de superação da pandemia e reflete a atuação coletiva da CNBB, junto a organismos, pastorais, movimentos e sociedade civil pelo Bem Viver.
Ao relembrar a missão, Carlos apresentou o painel que contou com a presença de Dom Mário Antônio, presidente da Cáritas Brasileira; Dom Darci José Nicioli, Arcebispo de Diamantina, Bispo Referencial do Regional Minas Gerais; Samuel da Silva, secretário da Cáritas Regional Minas Gerais; Nicolas Meyer, coordenador regional da Cáritas América Latina e Caribe; Leninha, deputada estadual pelo PT-MG; Patrus Ananias, deputado federal pelo PT-MG; Gilberto Carvalho, da Secretaria Nacional de Economia Popular Solidária do Ministério do Trabalho; Rosilene Rocha, secretária municipal de Assistência Social de Belo Horizonte; Valéria Carneiro, agricultora do Assentamento Pastorinhas e atingida da barragem da Vale em Brumadinho/MG.
Padre Dário Bossi, que esteve presente representando a presidência da CNBB, como assessor da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora, reforçou que Cáritas é Igreja. “A Cáritas interage e tem a missão de provocar a Igreja em todas as suas instâncias, na dimensão caritativa, da prática Pastoral mais direta, mas também na dimensão celebrativa, na dimensão catequética. É muito importante que a Cáritas nos ajude a manter o coração palpitando com as pessoas e com o planeta”, disse.
Dom Darci José Nicioli, arcebispo de Diamantina e bispo referencial da Cáritas Minas Gerais, ao dar as boas vindas às terras mineiras, leu a missão institucional da Cáritas Brasileira e finalizou a saudação dizendo: “Não estamos falando de sinodalidade? Que estejamos abertos àquilo que o espírito quer nos dizer“.
Por Justiça Socioambiental
A Assembleia Nacional deste ano trouxe o tema “Cáritas em Sinodalidade: na luta por direitos e justiça socioambiental” e como lema: “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça” (Mt 5,6). Ao longo dos dias, os momentos ressoavam o trabalho e gestos concretos que são realizados pela rede nos diversos territórios do Brasil.
As experiências do estado anfitrião já se anunciaram no primeiro dia, reafirmando o compromisso com o debate. Valéria Carneiro, agricultora do Assentamento Pastorinhas e atingida pela barragem da Vale em Brumadinho, na mesa de abertura, emocionou as pessoas participantes com o seu relato, ao expressar a importância da Cáritas em Minas Gerais ao caminhar junto com o Assentamento, fazendo com que o local se tornasse referência no Brasil no debate de agroecologia, fortalecendo, junto com a comunidade, a luta contra a mineração. “Eu sou o testemunho de que a Cáritas dá certo, de que vale a pena ter Cáritas no Brasil e no mundo“, disse.
No campo do debate público e do Estado, representantes do poder público também reforçaram a importância do papel da Cáritas. Leninha Alves, deputada estadual de Minas Gerais, que foi da diretoria nacional da Cáritas, explicitou a caminhada conjunta e de aprendizado com a entidade e a história que segue agora na Assembleia Legislativa. “A prática da melhor política, para além da solidariedade, da fraternidade, da justiça, parte do empenho de reduzir o modelo de desenvolvimento econômico que exclui, esse desenvolvimento econômico que traz tanta desigualdade nesse país”. A deputada ainda completou dizendo: “Nós queremos e nós lutamos para que todos tenham vida e vida em abundância, e todas as vidas são importantes, inclusive a vida da mãe natureza”.
Outro momento marcante que aconteceu durante a Assembleia foi o painel “Cáritas por direitos e justiça socioambiental reflete lutas de comunidades tradicionais”, que contou com a mediação de Cleusa Alves, vice-presidenta da Cáritas Brasileira, e presença de Dom Vicente Ferreira, bispo da Diocese de Livramento (BA) e referencial da Cáritas Regional Nordeste 3, Mônica Santos, integrante da Comissão dos Atingidos pela Barragem de Fundão, em Mariana (MG), e Cristina dos Anjos, assessora nacional da Cáritas Brasileira.
Diretoria nacional e conselho fiscal
A 28ª Assembleia Nacional da Cáritas Brasileira também foi espaço de decisões institucionais. A rede elegeu a diretoria e o conselho fiscal, que representarão a rede no próximo quadriênio (2024-2027).
Já no primeiro dia, os nomes da diretoria foram consensuados: com 138 votos, Dom Mário Antônio da Silva, Arcebispo de Cuiabá/MT, foi reeleito presidente; com 139 votos, Cleusa Alves da Silva, da Cáritas Diocesana de Bom Jesus da Lapa/BA foi reeleita vice-presidenta. Também foram eleitas Antônia Botelho, da Cáritas Diocesana de Abaetetuba/PA como secretária, com 103 votos; e Anadete Gonçalves, da Cáritas Arquidiocesana de Brasília/DF como tesoureira, com 97 votos.
Para o conselho fiscal, Istélia Folha, da Cáritas Diocesana de Palmas/TO, Itamar de Carvalho Souza, da Cáritas Diocesana de Pesqueira/PE, Luciano França, da Cáritas Diocesana de Ruy Barbosa/BA, foram eleitos como titulares. Paulo Evangelista, da Cáritas Arquidiocesana de Aracaju/SE, e Wellington Moreira Azevedo, da Cáritas Diocesana de Governador Valadares/MG, assumiram a suplência do conselho no próximo quadriênio.
A diretoria executiva nacional foi anunciada na última tarde da Assembleia. Este cargo é indicado pela rede Cáritas, com a escolha final da diretoria atual e da diretoria eleita. Valquiria Lima, que atualmente faz parte da colegiada nacional, foi anunciada como a próxima diretora-executiva da rede Cáritas no Brasil, assumindo o cargo até o final de 2027, dando continuidade à gestão construída no último período.
Feira de Saberes e Sabores e momentos culturais
Os momentos culturais e de trocas de saberes e sabores trouxeram para a Assembleia a valorização do popular, da mística e da espiritualidade presente na rede para o centro de Belo Horizonte.
A Feira de Saberes e Sabores oportunizou a comercialização do trabalho de grupos apoiados na área de Economia Popular Solidária. O espaço teve representação de empreendimentos de norte a sul do país, trazendo artesanatos, roupas, comidas e iguarias típicas das regiões. Para a Feira, foi elaborada uma moeda própria, para quem fosse comprar produtos com dinheiro, representando o desejo por uma outra economia.
Artistas e grupos mineiros participaram da Assembleia em momentos culturais, trazendo toda regionalidade do estado para o espaço. O Grupo de Flautas das Crianças e Adolescentes do programa Arte da Saúde; o artista popular Edson Franco; a Folia de Reis da Comunidade Quilombola dos Arturos; a orquestra popular Terno do Binga; o cantor, compositor e violeiro Pereira da Viola; o cantor, compositor e multi-instrumentista Sérgio Pererê; a cantora e compositora Aline Calixto; e o Reinado Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário, foram os artistas que trouxeram animação nas noites e intervalos do encontro.
Além deles, os artistas da rede Cáritas mobilizaram, nos momentos de plenária, mística e celebração, canções que embalam a luta junto às comunidades.
O artista popular cearense Zé Vicente com a cantora maranhense Lena Machado também embalaram diversos momentos da Assembleia, com destaque para a noite de celebração aos 67 anos da Cáritas Brasileira, 35 anos dos Regionais Piauí, Nordeste 3, Ceará e Norte 2, e homenagem a José Magalhães.
Cáritas e o futuro
“Umas das principais questões da nossa Assembleia é olhar para o futuro, a Cáritas está aí com os seus 67 anos e a gente quer que essa Cáritas continue por mais e por muitos anos fazendo essa contribuição junto àqueles e àquelas que mais precisam e que bom que a gente faz isso junto”, disse Samuel da Silva, secretário regional da Cáritas Minas Gerais. Para ele, o legado da rede é seguir e estar comprometida com a missão institucional e na escolha preferencial pelos mais pobres.
Os momentos de discutir o futuro também marcaram a Assembleia. É importante destacar que essas discussões começaram muito antes do momento presencial, já que a rede Cáritas no Brasil vem se preparando nos espaços de Planejamento, Monitoramento, Avaliação e Sistematização (PMAS), que foram realizados ao longo do ano. Representados pelos mais de 400 agentes, os grupos de trabalho e momentos de avaliação ecoaram os anseios dos territórios durante todo o evento.
Ao referenciar o futuro, outro destaque se dá pela construção que tem sido encarada no agora pela rede. A juventude que faz parte da área de atuação da Cáritas, voltada para o Programa de Infância, Adolescência e Juventude (PIAJ) deixou o recado, levantando suas vozes e mostrando a importância de escutar e envolver os/as jovens nos espaços de decisão, de discussão e de atuação da Cáritas.
“Enquanto juventude, participar de momentos como esse, de formação, de troca de experiência, troca de conhecimento para nós é muito importante, muito gratificante, porque a gente mostra nossa força enquanto juventude, mostra o nosso trabalho voluntário, que a gente faz nas nossas comunidades, nos nossos territórios”, disse Jessica Morais, da comunidade de Abaetetuba, no Pará. A juventude também foi responsável pela leitura da Carta para o Futuro da Cáritas Brasileira, documento que trouxe uma junção dos anseios expressos nas cartas escritas pela rede nos diferentes territórios do país. Leia aqui.